A casinha de duas águas e quatro cômodos, chão batido, sem água encanada e energia elétrica precária, abrigava o jovem casal. Pequena em tamanho, mas gigante em felicidades, harmonia e amor.
Recém casados e iniciando a vida conjugal naquele sitiozinho de propriedade da prefeitura, apelidado de Primeira Água. Apelido dado pela presença da represa de captação de água, que abastecia o município. Ele, funcionário da prefeitura, forte e corajoso, morava ali com a esposa e tinha a função de cuidar da limpeza ao redor da represa, dos canais e canos de captação, bem como do funcionamento da bomba d'água.
Ela, do lar, linda como o céu estrelado daquele lugar, cuidava dos afazeres da casa - limpando,cozinhando, lavando roupas, plantando algumas verduras nos canteiros e tratando dos pequenos animais. A casinha que durante o dia é banhada pelo sol nascente oferece ao entardecer a sombra tranqüila para observar a diversidade de pássaros que cantam, brincam e se acomodam nos ninhos disputando espaço com macacos e outras espécies no belo e acolhedor arvoredo de plantas nativas. As galinhas ciscando e fugindo do galo atrevido, o cheiro de boa comida denunciado pela fumaça da chaminé, o grasnar da família de gansos que margeiam a represa e o belo reflexo do sol se ocultando no horizonte em sua superfície. Um cenário harmonioso e deslumbrante, um lugar feliz para viver.
Diariamente ela retirava água do poço próximo à casa para uso doméstico, e num desses dias, um fato inusitado rompeu a calmaria; a aliança de casamento colocada a pouco mais de uma semana escorregou de seu fino dedo anular e caiu dentro do poço:
· Amor, amor, corre aqui, deixei cair a aliança no poço – disse ela em prantos.
Ele a consolou; e ambos ficaram tristes com o fato, não pela perda material, e sim pela simbologia do amor matrimonial.
No domingo após a missa, ela contou o fato a uma beata, Dona Pierina. Mulher respeitada por todos na região, benzedeira e parteira com Fé incontestável.
“Peça a São Longuinho que ele ajude a encontrar sua aliança, é um santo muito forte. Foi ele o soldado responsável por comprovar a morte de Jesus na cruz. Com uma lança foi obrigado a perfurar-lhe o corpo, e o líquido que saiu respingou nos seus olhos, curando-o instantaneamente de uma doença ocular muito grave. A partir desse momento ele se converteu imediatamente, abandonou o exército romano e transformou-se num monge.” - disse Pierina.
Atualmente, na tradição popular, quando ele é invocado ajuda a encontrar ou recuperar o objeto perdido.
Disse ainda - com muita Fé, peça assim:
· São Longuinho, São Longuinho se me ajudar a recuperar a aliança dou três pulinhos.
Passaram o dia no vilarejo, lancharam, tomaram sorvete e somente ao entardecer é que voltaram para sua casa, mentalizaram noite adentro a orientação da beata. Ao amanhecer foram juntos retirar a água do poço para o uso doméstico. De mãos dadas e com muita Fé pediram:
· São Longuinho, São Longuinho se me ajudar a recuperar a aliança dou três pulinhos.
Lançaram o balde de alumínio no fundo do poço e foram puxando pela corda lentamente, os raios de sol refletiam na água cristalina do balde, e quando chegou à superfície houve uma grande surpresa.
O brilho dourado no fundo do balde refletindo intensamente os raios solares era inacreditavelmente originário da aliança.
Emudeceram!
Na seqüência uma explosão de alegria contagiante. Aos gritos saltitavam em agradecimento a São Longuinho.
Não deram apenas três pulinhos, mas uma dezena deles.
Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
Twitter @alcirchiari