domingo, 27 de maio de 2012


O GRANDE MOMENTO


A multidão acompanhava tudo com ceticismo, em cada rosto uma expressão diferente, mas todos demonstrando apreensão.
Enquanto alguns tapavam o rosto para não ver, outros arregalavam os olhos e roíam as unhas.
Silêncio total!
O sol já estava se ocultando no horizonte, e o que poderia ser a certeza de um início de noite festivo, transformara-se numa agonia infinita.
A tensão era nítida e a incerteza do veredicto final estava caracterizada no suor que escorria pelos rostos e nas roupas molhadas e coladas aos corpos.
Naquele instante todos os presentes se sentiam como os dois indivíduos que eram o centro das atenções; apreensão total.
A impressão que se tinha era de que o tempo havia parado, todo o universo estava esperando o desfecho final para depois retornar a normalidade.
- O que acontecerá? - Perguntavam uns aos outros.
Chegou finalmente o grande momento, não havia mais como retardar aquela decisão.
Instintivamente a multidão se levanta na tentativa de melhorar o ângulo de visão e a tensão ficou ainda mais caracterizada em cada rosto, em cada olhar.
Finalmente uma grande explosão de alegria contagiante se apossou da grande maioria da multidão, os pulos e saltos de alegria somados aos abraços e gritos tornaram aquele ambiente quase ensurdecedor.
Todos queriam extravasar a alegria que ficara contida durante aqueles segundos finais.
As vozes somadas em um grito único e prolongado:
- Gooooolllllllllllllllll - Alegria total!
A outra parte da multidão ficou cabisbaixa e em silêncio, não acreditando no pênalti  convertido, mas para que exista um vencedor o outro tem que perder.
Gol, o grande momento do futebol.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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sábado, 19 de maio de 2012


O ÚLTIMO ADEUS
  
Após o término das aulas, Dona Celina, a mais antiga e experiente professora, estava reunida com as amigas no portão da escola.
Os alunos já haviam saído para suas casas.
A boa conversa e os sorrisos fáceis foram interrompidos momentaneamente pela buzina e os acenos do Sr. Joaquim que dirigia seu "possante", um fusca 1969 azul.
Quinzinho, como era chamado e conhecido por toda comunidade, único vendedor de bilhetes da loteria federal da cidade, estava realizando seu sonho, dirigir e exibir seu carro novo!
Todo empolgado passou buzinando e acenando para as professoras que retribuíram com sorrisos e o tradicional tchauzinho.
Em seguida Dona Celina aproveitou para comentar com as amigas o quanto o Senhor Quinzinho estava feliz com aquela aquisição, afinal, eram vizinhos e ele já havia confidenciado tal alegria.
De repente seu semblante alegre e descontraído foi mudando e um ar de pânico e apavoramento se apossou dela e das demais professoras.
- Olha o trem, cuidado! - disseram em uníssono.
O barulho da pancada somado ao atrito das rodas nos trilhos e o apito do trem se tornaram ensurdecedores.
Quinzinho não obedeceu à sinalização de PARE, OLHE E ESCUTE para atravessar a linha férrea, talvez pela distração e emoção de estar dirigindo seu "possante".
O carro foi arrastado por mais de cem metros até a parada final do trem.
Trêmula e com a voz embargada Dona Celina comentou com as amigas:
- Aquele não foi apenas um tchauzinho, mas sim o último adeus.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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sábado, 12 de maio de 2012


CONTRASTE
Da janela do prédio fiquei observando por alguns instantes o fluxo de veículos na avenida.
Surgiu diante dos meus olhos o contraste entre o presente e o passado, o rico e o pobre, a modernidade da tecnologia automotiva e a simplicidade da carroça tracionada pelo burro, ambos ocupando espaço no asfalto da movimentada avenida.
O semáforo estava vermelho, a carroça e os carros formavam uma fila dupla a espera da abertura do sinal.
Eis que surge uma ambulância com sua sirene colorida e barulhenta pedindo passagem em busca de reduzir o tempo em prol do socorro de mais uma vítima.
Os carros faziam pequenos movimentos se espremendo na tentativa de abrir caminho para que ela pudesse passar.
E o carroceiro, como vai proceder agora? – pensei.
Da mesma forma que os veículos fizeram suas manobras, o habilidoso carroceiro e seu animal, que de burro não tinha nada, também procederam da mesma forma.
O burro atendeu ao grito e ao movimento da rédea do seu dono e fez uma manobra espetacular abrindo espaço sem se assustar com a proximidade e o barulho da sirene da ambulância.
Se por um lado o cenário era contrastante entre o presente e o passado, ali representados pela modernidade tecnológica dos veículos e a simplicidade da carroça tracionada pelo burro, por outro lado ficou a lição de que as noções de trânsito e o princípio de respeito à vida atravessaram o tempo e seguem emparelhados no nosso cotidiano.
A ambulância passou, o sinal se abriu e cada um seguiu seu destino.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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