sexta-feira, 2 de agosto de 2013

SOLIDÉU MILAGROSO

A multidão se aglomerava por toda extensão da Avenida Atlântica na praia de Copacabana, com a intenção de se aproximar o máximo possível do papamóvel e quem sabe, com um pouco de sorte, ganhar um sorriso, uma bênção ou um aceno do Santo Padre.
O clima era de camaradagem, harmonia, companheirismo, empatia e amor ao próximo. As pessoas cantavam, aplaudiam e abraçavam-se mutuamente.
Grupos uniformizados entoavam cantos religiosos e faziam evoluções de dança. Quando um grupo encerrava uma pequena apresentação improvisada, outro logo começava. O refrão mais ouvido e repetido era:
- Essa é a juventude do Papa, essa é a juventude do Papa, essa é a juventude do Papa...
Os diferentes idiomas não impossibilitavam a comunicação entre os jovens, estavam todos movidos pela Fé,  esbanjando sorrisos e uma alegria contagiante.
Bandeiras de diversos países tremulavam no ar: - Brasileiras, Argentinas, Venezuelanas, Mexicanas e muitas outras, dividiam espaço com a bandeira do Vaticano.
Imagens de santos, cartazes escritos a mão e pequenas faixas também eram expostas: - identificavam cidades, desejavam bênçãos, solicitavam e agradeciam curas obtidas.
Uma chamou a atenção, dizia:
- "Sou evangélico e sei que tu és o Santo Papa, o substituto de Pedro na terra."
Jovens de cento e oitenta países estavam presentes na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (JMJ).
Muitos trajavam roupas típicas de seus países, e os brasileiros desfilavam seus trajes regionais.
Um gaúcho vestido a caráter segurava a cuia com o mate para oferecer ao Papa que se aproximava com o papamóvel, era muita pretensão, mas em se tratando de um Papa tão simples, humilde e carinhoso, quem sabe!
Ao seu lado, um cadeirante, aparentando cinquenta anos de idade, usando uma camiseta com a sagrada família estampada no peito e uma imitação de solidéu ( pequeno chapéu usado pelo Papa, Cardeais e Bispos) na cabeça, também esperava a passagem do papamóvel.
A camaradagem era tanta que os soldados do exército, responsáveis pelo cordão de isolamento naquela área, tratavam todos os fiéis com respeito e sorriso no rosto.
O mesmo comportamento se via nos seguranças que tiveram muito trabalho pela "indisciplina" do Papa, que queria tocar o povo.
O Gaúcho não acreditou quando o papamóvel parou em sua frente e o Papa estendeu a mão para tomar seu chimarrão. O Papa sorridente, tomou dois ou três goles e fez sinal de positivo, afirmando que o mate estava muito bom.
O Gaúcho esbanjava alegria.
O mesmo segurança que devolveu a cuia ao Gaúcho atendeu a solicitação do cadeirante que estendeu seu solidéu vermelho ( cor usada pelos Cardeais) para que entregasse ao Papa. Surpreendentemente, o Santo Padre ao recebê-lo, o colocou na cabeça por alguns segundos devolvendo-o em seguida para o mesmo segurança, que o entregou ao cadeirante. A multidão que presenciara a rápida cena aplaudiu a atitude e foi ao delírio com gritos de alegria.
Ao receber de volta o solidéu, o cadeirante o beijou, apertou fortemente junto ao peito e caiu em prantos. A multidão ao seu redor ficou comovida e chorava junto.
Uma comoção geral.
O cadeirante beijava incessantemente o solidéu, agora abençoado, e as lágrimas molhavam sua face.
O papamóvel foi se afastando em direção ao palco montado na praia de Copacabana, onde o pontífice realizaria a missa para mais de três milhões de pessoas de todo mundo, a maioria jovens.
Quando o cadeirante colocou o solidéu, molhado de tantas lágrimas, em sua cabeça, algo diferente aconteceu.
Sentiu uma vibração intensa que percorreu todo seu corpo frágil.
Um calor subiu pelas pernas, o coração disparou, o suor escorreu por todo seu corpo, as lágrimas se multiplicavam, soluçava compulsivamente e provocava comoção em todos ao seu redor.
As pessoas o abraçavam, choravam, o abençoavam, glorificavam a Deus e gritavam:
- "Viva o Papa Francisco"
A emoção daquele momento se estendeu durante todo o dia, mesmo após o encerramento da missa.
Apesar de ter perdido seus movimentos há três anos por uma bala perdida, nunca perdera a Fé, ao contrário, a cada dia se apegava mais a Deus e seus mandamentos. Suas limitações não o impediram de vir de tão longe, mais de mil quilômetros, para ver o Papa.
No domingo à noite, 28 de julho, o Papa partiu de volta para Roma, levando em sua maleta preta de mão um mundo de saudades. Os jovens voltaram para seus países de origem e os brasileiros para suas cidades.
A vida voltou ao normal no Rio de Janeiro.
Um mês se passou após esse maravilhoso encontro da humanidade com Deus proporcionado por um Papa carismático, humilde e singelo e nessa mesma data uma casa de caridade recebeu a doação de uma cadeira de rodas.
Firmando o passo mais de um lado que do outro e protegendo a cabeça com um solidéu vermelho, o coxo caminha feliz.

Essa é a pérola do dia
Pense nisso