Passava um pouco das quatro horas da manhã e além do galo do vizinho cantando e anunciando que continuava mandando no galinheiro, também se ouvia a chegada do padeiro com sua charrete.
O barulho das rodas, com raios de madeira e um arco de ferro à sua volta, somado às batidas das ferraduras, fixadas nas quatro patas do cavalo, contra o calçamento de pedra rompiam o silêncio da madrugada.
O pão era deixado no parapeito da janela ou na soleira da porta das casas que faziam parte da freguesia.
O mesmo cenário era repetido uma hora depois pelo leiteiro que deixava sua encomenda em garrafas de vidro transparente de boca larga ou comuns de cerveja ou refrigerante.
Ninguém tocava ou furtava nada, e no amanhecer, o cliente sonolento e sorrindo pegava suas encomendas agradecido pela prestação de serviços de ambos, que só receberiam pelos mesmos no final do mês.
Mais um dia de trabalho estava começando, e as fábricas anunciavam mais um início de jornada através de seu apito.
As mulheres, normalmente do lar, ficavam a cuidar da casa e dos filhos com a missão de preparar as refeições com tão pouco dinheiro.
Gente simples e pobre ficava a espreita da salvação, que chegava próximo das quatro horas da tarde, o bucheiro!
Além do barulho de sua charrete, que lembrava a do padeiro e do leiteiro, ainda tocava sua tradicional e inconfundível corneta e, aos gritos chamava a freguesia:
· Olha o bucheirooooo!
Acompanhando a charrete com o bagageiro de zinco, um cortejo de cães e gatos, atraídos pelo odor e na expectativa que lhes fossem atirados algumas sobras.
O bucheiro vendia miúdos de bovinos e suínos: - fígados, línguas, corações, buchos, rabadas e rins.
A freguesa por sua vez, com poucos centavos e muita exigência, adquiria os miúdos e transformava com criatividade tudo em um verdadeiro banquete.
A vida seguia calma, lenta e feliz.
O tempo passou!
O padeiro e o leiteiro não rompem mais o silêncio da madrugada com suas charretes barulhentas, tampouco passa o bucheiro no período da tarde vendendo miúdos baratos.
Desse tempo, sobraram apenas lembranças na memória de quem vivenciou.
A única recordação material está pregada atrás da porta da cozinha para espantar o mau olhado e trazer a boa sorte:
- A ferradura de uma das patas do cavalo do bucheiro!
Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
Twitter @alcirchiari
Do "bucheiro" eu não me lembro!
ResponderExcluirMas do padeiro, apito das fabricas, o cantar dos galos, esta bem vivo em minhas lembranças.
Meu pai foi padeiro, do jeitinho descrito na pérola preciosa, para muitos o pão era deixado no parapeito das janelas, em sacolas deixadas nas portas.
E naquela época era forte o fiado, ele trazia consigo uma porção de caderneta para marcar as entregas.
Os acertos eram feitos todas as segunda-feiras e o povo já era ruim de pagamento.
Com certeza ele levou grandes calotes!
E com certeza tambem, apesar das furadas de zoio, a vida era calma, lenta e bem mais feliz.
E relembrando mais uma vez coisas boas do passado, vamos dividir tambem esse belo e verdadeiro pensamento de DALAI LAMA.
"Pouco importa o julgamento dos outros. Os seres são tão contraditórios que é impossivel atender às suas demandas, satisfazê-los. Tenha em mente simplesmente ser autêntico e verdadeiro..."
Bela matéria. Ela nos reporta a um tempo onde as coisas, sem dúvida, eram mais difíceis, mas também, um época onde pequenas coisas eram muito valorizadas, como um simples pãozinho fresco na porta e um leitinho direto da fonte!
ResponderExcluirÉ......esses tempos não voltam mais!
hoje se alguém passar pelo portão de casa de madrugada, pode chamar a polícia!!!!!!
ResponderExcluirGostoso reviver o passado , nao é , nao vivenciei está epoca, mas acredito ter sido maravilhosa , o texto narra detalhes que fazem agente sonhar um pouco.....
ResponderExcluirUma pena mesmo que esse tempo tenha passado....gostei do comentário do fuzila...kkkkk...é verdade, se alguém passar no portão de madrugada chamem a RONE kkkkkkkkkkk
ResponderExcluirVou falar a verdade de todas as perolas que eu li (comecei a ler a partir da do balão pelo site do assaionline), essa foi a que eu menos gostei hahha.
ResponderExcluirMaas tbm gostaria de escutar o padeiro ou o leiteiro de madrugada trazendo meu café da manhaa! Um abraço o blog taa feraa
O padeiro e o leiteiro...em Centenário do Sul era assim...hehehe Saudade. =)
ResponderExcluirSó não vi o Bucheiro...ainda bem, não gosto desses miúdos! Rs!
Prezado Alcir,
ResponderExcluir"Olha o bucheiroooo"
Confesso que foi após a leitura desse texto que comecei a escrever, novamente. Uma leitura deliciosa de um tempo delicioso e que, certamente, ficou pra trás. Inclusive, após a retomada de minhas "estórias" tive publicada na Folha de Londrina do dia 25/01/12, folha 2, uma das minhas crônicas chamada: Carburadores. E a culpa disso foi do "bucheiro", ou melhor, foi do Alcir.
Com o "bucheiro" foi inevitável não lembrar minha infância pobre em Ourinhos - no início dos anos 70. Lembrei, também, do tintureiro, do jornaleiro entre outros desse mercado "delivery". O caminhão do Renato (aquele que vendia barato) veio anos depois, sem contar as pamonhas de Piracicaba (pamonhas, pamonhas, pamonhas!).
Parabéns Alcir, nós ainda tomaremos um café juntos!
Abraços!
João Neto
netosap@hotmail.com
43-9611-5153
Globalizado
ResponderExcluirNo tempo em que tudo se processa em escala global;
É como um imenso jogo de azar.
É preciso que muitos se deem muito mal
Para que alguns se deem muito bem...
É preciso, que em escala global,
Muitos se identifiquem, sustentem
E apreciem as grandes corporações
E as personalidades ligadas aos entretenimentos.
Quando eu era menino havia
O mercadinho da outra esquina,
O leiteiro, o açougue do seu Altino,
O padeiro que passava todas as manhãs,
O sapateiro, o verdureiro, o bucheiro...
Todos eles ganhavam o seu “pão”
Dividiam o que agora está nas mãos
Das grandes empresas globalizadas
E suas personalidades do mundo do entretenimento.
J.Nunez
Nossa muito legal relembrar isso, não lembro do padeiro, mas do leiteiro e no finzinho da minha infância peguei a fase do Bucheiroooo, era bem isso mesmo, parece que parei no tempo relembrando os momentos que vivi, lembrei até o nome do nosso Bucheiro que corria minha vila/cidade, o Zé Bucheiro, um Sr. que vinha com seu chapéu e um bigodão de botar inveja em muitos hoje. Boas lembranças de minha infância, onde naquela época era tudo muito mais simples e descomplicado.
ResponderExcluir