CHINELO VIRADO

Uniformizados e com as mochilas nas costas, os dois garotos saíram saltitantes da escola após o sinal de encerramento das aulas do dia.

Moravam na mesma rua, e juntos, faziam diariamente o percurso até a escola.

No caminho, em sentido contrário, cruzaram com um casal que conversava distraidamente sobre a morte da mãe de alguém.

Pedrinho imediatamente disse ao seu amigo Paulinho:

- Tenho certeza que não é a minha mãe que morreu.

- Como tem tanta certeza? – disse Paulinho.

- É que nunca deixo nenhum chinelo virado em casa, pois se tiver chinelo virado a mãe morre, desviro todos!

- Você não desvira os chinelos na sua casa, deixa com a sola para cima? – perguntou Pedrinho.

- Nunca desvirei não.

- Vichi! – disse Pedrinho.

- Será que é a minha mãe então que morreu? – disse Paulinho.

Os dois saíram correndo em disparada e ao virarem a rua perceberam movimentação de ambulância próxima as suas casas, afinal, eram vizinhos “de gritos”.

Quanto mais se aproximavam, mais Paulinho se desesperava.

Finalmente chegaram e descobriram que realmente havia uma morte, mas era de Dona Genoveva, uma idosa de aproximadamente oitenta anos, que morrera por insuficiência respiratória.

Morrera de velhice como diziam os presentes na rua.

- Ufa! – disse Paulinho.

Despediram-se e entraram para suas casas.

Paulinho imediatamente abraçou e beijou fortemente sua mãe, que não entendeu muito bem o calor de tanto carinho.

- Mamãe, eu te amo!

- Eu também te amo meu filho, agora vá guardar sua mochila, lave as mãos e venha almoçar.

Paulinho obedeceu, e antes de lavar as mãos e sentar-se para almoçar, olhou em todos os cômodos da casa na captura de algum chinelo que estivesse virado com o solado para cima.

Os chinelos que estavam virados, desvirou imediatamente!

Até hoje Paulinho desvira os chinelos, inclusive seus filhos também o fazem.

Sua mãe, muito amiga da mãe de Pedrinho, já tem mais de noventa anos!

Essa é a pérola do dia.

Pense nisso!

Twitter @alcirchiari