sábado, 18 de agosto de 2012


DAMAS DA NOITE

Atraídas pela luz da lâmpada artificial as mariposas ficam voando em círculos até caírem mortas após o abraço fatal no bulbo quente.
Em baixo, sentado sob a mesma luz e utilizando-se do poste como escora e apoio para seu equilíbrio, o moribundo ironizava cada mariposa que despencava torrada:
- Malditas damas da noite, meretrizes voadoras, bruxas noturnas é o que vocês são!
Entre um gole de cachaça e um trago na bituca de cigarro apanhada no chão, totalmente embriagado, seu desabafo era repleto de magoas e palavras de baixo linguajar.
Pisoteava cada uma das mariposas, na tentativa de amenizar as dores do coração. Abandonado e desiludido em conseqüência da vida desregrada que tivera quando mais jovem.
Cada mariposa que caía o remetia as lembranças do passado; um passado não muito distante, onde reinava nos salões das boates.
Dançava com muitas meretrizes, embalado por canções nostálgicas e, no amanhecer do novo dia estava dividindo a cama com uma das escolhidas.
Era um homem bem sucedido, pai de família que se perdeu na bebida e orgias das casas noturnas. Sempre acompanhado pelas "mariposas" na boêmia, foi acabando com sua saúde, patrimônio e relacionamento familiar.
Entretanto, sua esposa, após muito sofrimento e infindáveis tentativas para tirá-lo desse caminho tortuoso acabou vencida pelo destino que o esposo escolhera. Colocou um fim no relacionamento e judicialmente protegeu a parcela do patrimônio que lhe cabia para salvaguardar o direito dos filhos.
Após esse último porre, ninguém mais viu ou ouviu falar do moribundo das mariposas.
Tornou-se um homem sem destino, um andarilho a procura de outras mariposas; não mais aquelas sensuais e perfumadas, mas aquela que definitivamente pudesse lhe dar o abraço fatal.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
Twitter @alcirchiari

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