SISTEMA

O barulho das canecas de alumínio batendo nas grades, gritos, xingamentos e intimidações eram ensurdecedores e provocaram um medo enorme no rapaz ao ser recepcionado na penitenciária.
Estava ali por um desvio de comportamento bobo, um pequeno furto a domicílio influenciado por má companhia. O companheiro, malandro experiente, fugira e ele ficou com o ônus do furto sozinho.
Esperava sair daquele inferno em dois a três dias no máximo, mas não imaginava que o sistema fosse tão complexo.
Na primeira noite foi surpreendido pelo grupo de presos que comandava a penitenciária.
Foi estuprado pelo líder dos marginais, o temido "chefe".
No outro dia, além das dores e marcas pelo corpo ainda teve que passar por humilhações e chacotas dos demais detentos.
Estava traumatizado, pensou em se suicidar!
Uma faca artesanal chegou a suas mãos juntamente com um aconselhamento de vingança.
Acuado, humilhado e sem saber o que fazer, guardou o objeto consigo.
Durante a refeição em meio aos sorrisos irônicos e um afago proposital e desmoralizante do chefe, na presença de todos os detentos, transformou o medo em uma fúria incontrolável. Num movimento rápido, golpeou com precisão o seu algoz, a faca artesanal foi cravada no peito atingindo o coração.
Silêncio total no refeitório, o rapaz que no dia anterior fora feito de "mocinha", agora acabara de matar o mais temido dos marginais daquela penitenciária.
Na solitária, trêmulo e em prantos, batia com a cabeça na parede, não se conformava com o que fizera com sua vida. Em dois dias apenas, deixara de ser um simples ladrãozinho iniciante e se tornara um assassino.
- Que sistema é esse, o que acontecerá comigo quando sair da solitária? - perguntou-se.
Após uma semana de isolamento, voltou para sua cela original e ao convívio dos demais. Percebeu que havia algo de diferente no ar, ao invés de piadinhas irônicas, agora adquirira o respeito e o temor de todos.
Gostou daquilo!
Aquele rapaz inexperiente e "bobinho", em menos de um mês tornara-se o "chefe".
O tempo passou, foi julgado e condenado pelo assassinato, passaria grande parte de sua vida ali naquele inferno, e para manter o respeito era impiedoso com todos.
O barulho das canecas de alumínio batendo nas grades, gritos, xingamentos e intimidações eram ensurdecedores e anunciavam a chegada de um novo preso.
Rapaz novo no pedaço era prenda para o "chefe". Aquele que um dia foi vítima agora era o algoz.
Silêncio no refeitório!
O rapaz que fora estuprado pelo "chefe" na noite anterior acabará de esfaqueá-lo. Está lá o corpo estendido no chão.
Esse é o sistema!

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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