sábado, 28 de abril de 2012


ABRAÇO FATAL

Diariamente ele frequentava aquele lugar, sempre repetindo as mesmas ações. Ocupava sempre a mesma mesa do canto do bar, onde tinha uma ampla visão, pedia uma bebida e dois copos, se servia e ficava observando a tudo e a todos.
Ficava esperando por alguém que normalmente não aparecia. 
Hoje, diferentemente dos outros dias, ele estava mais agitado, parecia prever a presença desse alguém tão esperado.
Senti um calafrio como se alguém tivesse passado por perto de mim.
Em seguida observei que ele se levantou e com um largo sorriso deu a volta em torno de sua mesa, puxou a outra cadeira como se alguém estivesse ali presente, esperou que a “pessoa” se sentasse e empurrou gentilmente a cadeira. Voltou para seu lugar, serviu o outro copo e brindou.
Tudo muito estranho, mas sua atitude demonstrava estar falando com alguém.
Do lugar onde eu estava, pude ouvir involuntariamente toda conversa.
- Relaxe e se acomode, já servi sua bebida, temos muito a conversar. – disse ao imaginário.
- Sabe, sou um homem realizado, constitui uma linda família, construi um patrimônio razoável, tive sucesso no meu trabalho, viajei por alguns lugares interessantes, soube valorizar o nascer e o pôr do sol, saboreei cada alimento com prazer, degustei as mais variadas bebidas, sorri, chorei e amei. – continuou.
- Resumidamente posso afirmar que sou um homem feliz, portanto, já estava em tempo de nos encontrarmos!
- Você não vai provar da bebida que lhe servi?
- Está com pressa?
Silenciou-se por alguns instantes como se ouvisse algumas orientações.
Na seqüência sorriu, levantou-se, aproximou-se da outra cadeira, puxou-a para que o imaginário se levantasse e com os braços abertos deu um forte abraço.
Um abraço fatal.
Caiu sem vida no chão.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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sábado, 21 de abril de 2012



CORTANDO O TEMPORAL


Todos os dias ao entardecer nos reuníamos no quintal da casa e ficávamos observando a diversidade de pássaros voltando para seus ninhos no belo e acolhedor arvoredo que margeava o pequeno riacho.
O sol se ocultando no horizonte refletia seus raios de luz sobre a plantação de arroz, que já estava pronto para ser colhido, intensificando a coloração dourada de seus cachos carregados e dobrados, proporcionando um cenário harmonioso e deslumbrante.
Meu avô aproveitava a oportunidade para fazer uma analogia em relação à humanidade:
- Se “os homens” seguissem o exemplo do cacho de arroz, o mundo seria bem melhor. Observem que quanto mais carregado, granado, vigoroso, cheio e rico ele está, mais se dobra. Assim, deveria ser a humanidade. – dizia com severidade.
Entretanto, naquele dia o céu estava encoberto anunciando chuva, aliás, anunciando um verdadeiro temporal.
Quando o céu escurecia naquelas bandas, era certeza de chuva de granizo.
Pela primeira vez vi lágrimas nos olhos do meu pai, provavelmente em sua cabeça já estava criado um cenário de destruição em toda plantação.
- Meu Deus, amanhã vamos começar a colheita do arroz, e esse temporal pode levar por água abaixo todo nosso suor e sacrifício em minutos. – disse meu pai.
Uma sensação de pânico se apossou de todos.
Meu avô, sabiamente, pediu que todos se acalmassem e se afastou do local.
Andou cerca de trinta metros se isolando. Retirou o punhal da bainha que mantinha sempre na cintura, e começou a “cortar o temporal”.
Fazia movimentos em cruz no ar e clamava pela intercessão de Santa Catarina, fazendo uma oração que somente ele conhecia.
Nós, de longe observávamos a cena em silêncio.
Vi com meus próprios olhos o temporal se afastando e em seguida veio uma chuva fina e calma. No dia seguinte iniciamos a farta colheita do arroz, a maior que tivemos.
Meu avô já se foi, e levou consigo a bendita oração, sua intensa Fé e espiritualidade.
Daquele tempo, restou apenas o punhal, que guardo até hoje como relíquia e recordação de um tempo bom que não volta mais.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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segunda-feira, 9 de abril de 2012

ANJO DA GUARDA



A única alternativa naquele momento era encararmos caminhando aqueles oito quilômetros, do sítio onde morávamos até a cidade.
Eu estava muito mal, andava cambaleando de um lado para o outro, com dores abdominais insuportáveis, calafrios, fraqueza e muita febre. Precisava urgentemente de atendimento médico.
Morávamos num sítio da prefeitura da cidade onde era feita toda captação de água para o município. Meu esposo era o responsável pela limpeza e manutenção das bombas. Vivíamos na simplicidade sem nenhuma condução para nos locomovermos.
Minhas filhas de seis e quatro anos caminhavam junto ao meu esposo e reclamavam de dores nos pés e nas perninhas finas, parando a cada cem metros para descansar.
Ele carregava o nosso bebê, um menino, recém-nascido no colo, e eu mal agüentava as minhas próprias pernas.
As dores e o mal estar me faziam delirar e eu pedia para morrer, ao mesmo tempo em que pedia perdão a Deus por essas blasfêmias.
O pó da estrada se misturava ao nosso suor e colava em nossos corpos.
Constantemente me sentava para descansar. Estava realmente muito mal.
- Dessa eu não vou escapar - dizia ao meu esposo.
Ele me consolava e tentava me animar para prosseguirmos a caminhada, mas tudo era muito difícil.
- Oh meu Deus, me ajude, preciso criar essas crianças – Eu suplicava com Fé.
Finalmente surgiu uma esperança, um veículo levantando poeira na estrada. Vinha em sentido contrário, mas quem sabe ele poderia nos ajudar. – Pensei.
Acenamos e o veículo parou, era um Jipe com trabalhadores que iriam ao sítio do final da estrada.
- Não posso ajudar, pois estou levando os empregados para o trabalho e já estou atrasado.
A resposta negativa era óbvia, afinal, o Jipe estava indo em direção contrária, mas ao mesmo tempo surpreendente porque quem o conduzia era meu cunhado, irmão do meu esposo.
Pouco se sensibilizou com minha situação e com o alerta para a possibilidade da minha morte. Foi se embora, seguiu seu destino deixando poeira nos nossos olhos.
Na verdade eu estava mais pra lá do que pra cá!
As dores eram muito fortes e eu me contorcia, o desespero era total!
Caminhamos um pouco mais, e a cada cem metros parávamos para descansar. Eu mal conseguia respirar e as crianças choravam e resmungavam.
- Meu Deus, me ajude, tenha misericórdia, mande um anjo da guarda!- exclamei em prantos.
Eis que surge ao longe a poeira de um veículo em velocidade.
Meu esposo acenou com a mão e o veículo conduzido por um rapaz parou uns cinco metros à frente.  Ficou sensibilizado com tanto sofrimento e resolveu nos ajudar.
- Deus seja louvado! – Exclamei.
Deixou-nos na porta do hospital, o mesmo onde estive internada por ocasião do parto do bebê.
- Muito obrigado e vá com Deus! - Eu disse antes de desmaiar.
O rapaz seguiu viagem e imediatamente os enfermeiros do hospital me levaram para o pronto socorro.
Hemorragia! - disse o médico ao meu esposo.
Me arrependo até hoje por ter ganho meu filho no hospital, pois tive minhas duas filhas em casa com a parteira e nada me aconteceu, nada de hemorragia.
Não estou culpando o hospital por isso, mas associo os dois partos anteriores, de muita tranqüilidade com esse.
Fique traumatizada com esse hospital, pois precisei de transfusão de sangue para me recuperar da hemorragia e fui contaminada com o vírus da hepatite.
Foram vinte dias internada no hospital e mais dois anos de severo tratamento.
Hoje, já avó, conto essa história aos meus filhos e netos com lágrimas nos olhos e sempre digo que fui salva pelo meu anjo da guarda.
Rezo diariamente para o rapaz que nos deu carona, nem sei o seu nome, o que faz, onde mora, tampouco se esta vivo, mas tenho a certeza que foi um anjo mandado por Deus.
Graças a ele estou viva e posso testemunhar isso a vocês.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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domingo, 1 de abril de 2012

INDIFERENÇA



As árvores estão intocadas, nenhum ramo foi retirado e nenhum galho foi cortado.
Não há ramos estendidos no chão formando um tapete.
Não há entrada triunfal sobre o burrinho.
Não há cânticos de Hosana Hei, Hosana Ha!
Não há tempo para lembrar que ELE veio para que todos tenham vida.
Cada um carrega sua cruz diariamente, lutando, enfrentando dificuldades, perseguições e doenças.
É a luta pela sobrevivência.
Esquecemos do que é importante, para nos ocuparmos “demasiadamente” com afazeres menos importantes criados por nós mesmos.
Somos indiferentes!
Essa afirmação não serve para você?
Que bom!

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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