segunda-feira, 31 de dezembro de 2012



RÉVEILLON – DESPERTAR


Faltavam apenas 10 minutos para meia noite, e a praia estava lotada.
Tradicionalmente todos vinham passar a virada do ano e acompanhar o show de fogos de artifícios das balsas estacionadas a uma distancia segura no mar.
Homens, mulheres, crianças, casais de namorados, famílias inteiras se postaram ali para ver o espetáculo.
Nos prédios da Avenida Atlântica, uma visão privilegiada das janelas e sacadas dos apartamentos, e tudo acompanhado de comidas e bebidas.
A cor predominante na praia era o branco dos calções, camisetas, vestidos e saias.
A maioria descalça e, alguns usando tênis ou chinelos, estavam todos à espera do início da grande festa de ano novo.
Barzinhos adaptados em barracas, vendendo refrigerantes e cervejas, algumas pessoas com garrafas de champanhe e taçinhas de plástico na mão para não perder o glamour, flores para jogar para Iemanjá e o sorriso estampado no rosto de cada um.
O clima era de muita harmonia e camaradagem, abraços e beijos antecipados além dos tradicionais desejos de saúde, paz e prosperidade.
Meia noite em ponto começa o show dos fogos de artifício e a imagem era a mais bela já vista, as pessoas se abraçavam e confraternizavam, era uma euforia!
Primeiro os parentes, depois os amigos, e na seqüência conhecidos e desconhecidos, todos formavam uma grande família, unidos pelo desejo de um ano melhor.
Alguns choravam, outros sorriam, era uma emoção contagiante, com muita reflexão na cabeça de cada um naquele momento.
Os fogos continuavam e a cada explosão a imagem era ainda mais fotográfica, arrancando aplausos do público.
Era a verdadeira visão da paz no céu, na terra e no mar.
Naquele tumulto todo entre abraços e beijos, “um” me marcou profundamente.
Um garotinho de cabelos bem claros e enrolados, olhos azuis e brilhantes puxa minha bermuda para poder também dar o seu abraço de confraternização.
Me abaixo, ele me abraça fortemente, dá um beijo no meu rosto, faz votos de boas festas e cochicha uma frase em meu ouvido, depois se solta e some no meio da multidão.

Disse:
- desperta também para uma nova alma e não para um novo ano!


Essa é a pérola do dia
Pense nisso!
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domingo, 25 de novembro de 2012



FELIZ NATAL

As pessoas se aglomeravam na praça para ver o que estava acontecendo. Em pé, sobre o banco, o mendigo discursava em alta voz. Maltrapilho, exalando odor característico pela ausência de banho, barba e cabelos por cortar ele demonstrava muito conhecimento e aprofundamento no que dizia.
Seu discurso naquele momento referia-se a “Ceia do Senhor”. Fez questão de enfatizar que aquela foi a última refeição compartilhada por Jesus com os doze apóstolos antes de sua morte e ressurreição. 
ELE levantou o pão, deu graças, partiu e entregou aos seus discípulos dizendo: “Este é o meu corpo que será entregue a vós". – relembrou a cena.
Os espectadores estavam impressionados com seu conhecimento, boa fluência e português correto, e diziam entre si:
- Como um homem com tanto conhecimento tornou-se um mendigo?
O Sol estava se pondo e as pessoas foram se retirando do local deixando algumas moedas de cinco e dez centavos. Um dos espectadores, uma senhora, ficou tão impressionada com aquele discurso e encenação, que imaginou o próprio Cristo falando. Sensibilizada mas sem nenhuma moeda para doar, acabou deixando o pão que havia comprado a alguns minutos na padaria para levar aos seus familiares.
Todos se foram, e ele também se retirou da praça, levando as moedas no bolso e o pão debaixo do braço.
Sob o viaduto, sua moradia, onde dividia um pequeno espaço com outros mendicantes, sentou-se para descansar.
Faltando quinze minutos para a meia noite, ele acendeu uma vela, estendeu um pano no chão e colocou o pão para cear. Aos poucos, os outros mendigos se reuniram ao seu redor. Levantou o pão para o céu, deu graças e o partiu, dando aos demais. Coincidentemente eram doze, como na Santa Ceia.
Em silêncio, ceiaram fartamente.
Exatamente a meia noite o sino da Catedral soou anunciando a chegada do Natal. As badaladas foram fortes e por toda cidade se ouviu.
Eles se entreolharam, sorriram e se abraçaram mutuamente desejando um FELIZ NATAL.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
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domingo, 11 de novembro de 2012



REENCONTRO
  
A mãe acariciou sua cabeça, deu-lhe um beijo na face e o  abençoou dizendo:
- Hoje será um grande dia para você meu filho, que Deus esteja contigo.
Ao chegar à pequena e aconchegante igreja São Judas Tadeu sentiu um frio na barriga, estava lotada de parentes e amigos.
Era o dia da sua primeira comunhão.
Em pares e enfileirados, os catequizandos aguardavam a abertura da porta principal para o inicio da cerimônia.
Ao seu lado, estava a mais linda das catequizandas. De vestidinho branco ela parecia uma verdadeira noivinha.
Em seu intimo era assim que ele a via, e imaginava um dia esperá-la no altar e observar seu encantador sorriso invadir aquela mesma igreja.
Esse era o seu sonho e desejo secreto!
Com a abertura das portas da igreja foi iniciada a cerimônia, marcante, como é em toda "formatura" de primeira comunhão.
Chegava ao fim um ciclo, um aprofundamento importante nos estudos religiosos, um aprendizado de bons costumes, relacionamento humano e respeito ao próximo.
O tempo passou, e cada um seguiu seu próprio caminho.
Quis o destino que o sonho do garoto, agora rapaz, se realizasse.
A mesma cena que antecedeu a cerimônia de sua primeira comunhão se repetiu.
A mãe acariciou sua cabeça, deu-lhe um beijo na face e o  abençoou dizendo:
- Hoje será um grande dia para você meu filho, que Deus esteja contigo.
No altar, ele esperava ansioso pela abertura da porta.
Ao abrir e avistá-la, um filme passou em sua cabeça, foi como levantar a tampa de um baú e voltar ao passado.
Lembrou-se que um dia imaginou esperá-la no altar e observar seu encantador sorriso invadir aquela mesma igreja.
Assim como no dia da primeira comunhão, ela estava linda com seu vestido branco, agora verdadeiramente de noiva.
A pequena e aconchegante igreja São Judas Tadeu se agigantou com sua entrada triunfal.
A cada passo dela, uma batida mais forte no coração dele.
Transpirava muito e sentiu aquele mesmo frio na barriga ao vê-la se aproximar do altar.
Sorridente, foi recebida pelo noivo.
A mãe, orgulhosa, acenava para o filho que naquele instante realizaria seu primeiro casamento como padre daquela igreja.

Essa é a pérola do dia.
Pense nisso!
 
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domingo, 28 de outubro de 2012



RAMALHETE DE FLORES

Assim como nos sábados anteriores, o grupo de rapazes se reuniu no final da tarde no bar para celebrar a amizade e comentar o resultado do jogo de futebol.
O papo, como sempre, descontraído e regado a muita cerveja. Naquele dia, foi interrompido momentaneamente, e a atenção ficou toda voltada para uma senhora que caminhava sorridente com um ramalhete de flores. Linda, bem vestida, cabelos brancos, curtos e brilhantes davam-lhe aparência de uma mulher com aproximadamente setenta anos de idade, bem vividos. A beleza do ramalhete de flores ficou ofuscada pelo seu sorriso encantador.
Ao aproximar-se dos rapazes fez questão de cumprimentá-los desejando-lhes uma “boa tarde”.
Foi correspondida imediatamente, elogiada e questionada se havia ganho aquelas flores. Respondeu de prontidão:
- Eu não ganhei essas flores, vou surpreender minha professora de espanhol, presenteando-a, afinal, ela merece.
Um espanto momentâneo se apossou dos rapazes, afinal, uma senhora setuagenária estudando outro idioma; o que faria com tal aprendizado?
Preconceito por parte deles em pensar assim?
Talvez, mas realmente é muito surpreendente uma pessoa com essa idade esbanjar tamanha motivação para aprender.
Infelizmente a maioria dos idosos nessa idade já se acomodou, deixando a impressão que estão apenas fazendo a contagem regressiva.
Ela, diferentemente, foi ainda mais enfática:
- Eu não sou fraca não. – Complementando o raciocínio de estar estudando espanhol.
Em meio a muitos elogios e aplausos por parte dos rapazes, despediu-se assoprando um beijinho carinhoso.
Realmente encantadora!
Os rapazes ficaram impressionados com aquela vitalidade, e o assunto na mesa passou a ser a lição de vida deixada por ela:
- Dialogo simples e educado, alegria contagiante, disposição e vontade de aprender, bom humor, simpatia, motivação para viver e habilidade na arte de surpreender e demonstrar sua gratidão.

Essa é a pérola do dia
Pense nisso!
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sábado, 20 de outubro de 2012



DIMINUINDO A DISTÂNCIA


A fiel clientela do bar do Canhoto se reúne diariamente para tomar chopp, aperitivar, comentar os resultados e a próxima rodada do futebol brasileiro.
O garçom é amigo de todos; camarada, muito atencioso e comunicativo, esta sempre disposto a prestar o melhor atendimento.
Ultimamente anda intrigado com um novo cliente que começou a freqüentar o bar.
Desabafando com o patrão, comentou que toda sexta-feira o novo cliente, um rapaz bem vestido e de sorriso fácil, ocupa a mesma mesa e pede três tulipas de chopp.
- Ora, não há problema algum em pedir três tulipas de chopp. – disse o patrão.
- Sim, concordo, mas todas de uma só vez, e ainda pra beber sozinho? – respondeu o garçom.
A curiosidade estava estampada no seu rosto, queria desvendar esse mistério.
Finalmente chegou, a tão esperada, sexta-feira, e surge o sorridente rapaz.
Ocupou a  mesma mesa e repetiu o ritual.
O garçom, não resistiu e após servir as três tulipas perguntou gentilmente ao cliente:
- Desculpe a indiscrição, mas tenho observado que o senhor pede as três tulipas e acaba bebendo sozinho, não seria mais conveniente pedir uma de cada vez?
Educado e ainda mais sorridente, o rapaz explicou:
- Entendo sua curiosidade, parece coisa de maluco, mas na verdade estou diminuindo a distância e matando a saudade.
O garçom estampou uma expressão de “não entendi nada”.
O rapaz continuou a explicação:
- Tenho dois irmãos que moram em outras cidades bem distantes daqui, somos muito unidos, sempre nos reuníamos às sextas-feiras para aperitivarmos e tomarmos chopp. O destino quis que nos separássemos em função das nossas profissões e, a forma que encontramos de diminuirmos a distância e continuarmos unidos foi manter esse hábito.
Assim como eu, nesse exato momento meus irmãos estão fazendo a mesma coisa na cidade em que moram, pedem três chopp e tomam um para cada irmão.
O garçom ficou encantado com a história.
Ficou amigo do cliente e o aguardava ansioso toda sexta-feira para atendê-lo e saber um pouco mais sobre essa relação familiar tão bonita.
Esse ritual se repetiu por muitas e muitas vezes.
Num belo dia o rapaz ocupou a mesma mesa, mas pediu apenas dois chopp.
O garçom ficou assustado, pois imaginou o pior. Não conhecia pessoalmente os rapazes, mas pelo entusiasmo com que as histórias que os envolviam eram contadas semanalmente pelo irmão, já os adotara como amigos também.
Sentiu um aperto no coração.
Apesar da liberdade e confiança que adquirira com o rapaz, não sabia como abordá-lo, afinal, falar de morte é sempre muito constrangedor.
Serviu as duas tulipas de chopp, e se retirou. Andou de um lado para o outro, e foi atender outras mesas. Não resistiu a curiosidade, se encheu de coragem, voltou e perguntou:
- Meu amigo desculpe incomodar, mas estou preocupado com você e com o bem estar dos seus irmãos, o que aconteceu?
- Qual deles morreu?
O rapaz soltou uma gargalhada, agradeceu pela preocupação do  garçom e explicou:
- Ninguém morreu meu amigo, meus irmãos estão muito bem graças a Deus, eu é que parei de beber.

Essa é a pérola do dia.
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